JOAQUIM ANTONIO DE S. THIAGO 1857 – 1916
O Professor Joaquim Antonio de S. Thiago foi notá- vel pioneiro do Espiritismo no Estado de Santa Catarina.
Filho de Peregrino Servita de S. Thiago e de Dona Maria Augusta de S. Thiago, ambos catarinenses, nasceu no dia 25 de Outubro de 1857, na cidade de Florianópolis (SC), vindo a desencarnar em S. Francisco do Sul (SC) em 5 de Outubro de 1916.
Era irmão mais moço do ilustre engenheiro doutor Polidoro Olavo de S.Thiago, jornalista e político, que chegou a vice-governador do Estado de Santa Catarina e que, em 20 de Abril de 1890, criou, na Federação Espírita Brasileira, a “Assistência aos Necessitados”, de existência ininterrupta até os dias de hoje.
Joaquim S. Thiago fez seus estudos preliminares no Colégio “Santíssimo Salvador”, de Florianópolis, dirigido pelos padres jesuítas, continuando-os no Rio de Janeiro, onde fre- qüentava um curso particular de português e matemática mantido pelo seu irmão acima men- cionado.
Espírito de grande sensibilidade e de uma ternura inigualável por sua mãe, Joaquim S. Thiago, à notícia do seu falecimento, ocorrido em virtude da dedicação com que se entregara
- Maria Augusta ao tratamento dos enfermos de febre amarela, que na época fazia inúmeras vitimas em São Francisco do Sul, regressou a essa cidade, onde seus pais residiam. E nunca mais daí se ausentou, a não ser acidentalmente, para exercer funções eletivas, pois fora depu- tado à constituinte estadual, como seu irmão Polidoro.
Em São Francisco do Sul foi sempre – e com que dedicação e elevação moral e cívica!
– preceptor da mocidade. Sucediam-se as gerações, e o mesmo professor ali estava para en- caminhá-las no amor da cultura e do bem. Até 1886 foi professor particular e, desse ano ate 1916, professor público. Republicano histórico, a política, entretanto, por muito pouco tempo o seduziu. Preferiu entregar-se a obras de assistência social e ao cultivo das belas letras, nas quais adquiriu, como autodidata, extraordinário realce.
Casou em 1880 com D. Clara Almeida de S. Thiago, descendente da família Campos e Almeida, e natural do Rio de Janeiro. Ela exercia em São Francisco do Sul as funções de pro- fessora pública, ensinando música, sobretudo. Do casamento houve sete filhos, que recebe- ram educação esmerada.
No desempenho de suas tarefas no magistério, o casal S. Thiago deu belos exemplos de abnegação e do mais alto espírito construtivo.
Não sabemos ao certo quando Joaquim S. Thiago se tornou espírita, iniciado pelo seu irmão Polidoro, mas pode-se afirmar que ele foi um dos pioneiros do Espiritismo em Santa Catarina. “Comecei a ser feliz” – escreveu o nosso biografado em seu Livro Íntimo – “desde o dia em que meu irmão Polidoro, a quem rendo aqui profundo preito de gratidão, transfundiu em meu coração os sagrados ensinos da doutrina espírita que abracei com toda a sinceridade e firme convicção”. Iniciando a sementeira do Evangelho no seu próprio lar, teve a feli- cidade de ver todos os filhos vinculados estreitamente ao trabalho espírita, e hoje o seu nome
é invocado por uma descendência que se eleva a mais de cem pessoas, entre filhos, netos e bisnetos, todos militantes no Espiritismo.
Em 21 de Julho de 1895, fundava em sua casa, com outros companheiros, entre eles a virtuosa e notável médium D. Maria Amélia de Miranda e Silva, o Centro Espírita “Caridade de Jesus”, que funcionou, sob a sua presidência, até 1916, reconstituindo-se, sob a direção do Professor Arnaldo Claro de S. Thiago, em 1924. Essa entidade espalhou e continua espa- lhando muitos benefícios à população francisquense. Tinha um órgão de divulgação doutri- nária – “A Revelação”, que reapareceu mais tarde e continua até hoje a sua missão construti- va.
De 1895 em diante, o Professor Joaquim S.Thiago redobrou seus esforços na propaga- ção da Doutrina Espírita, na assistência aos necessitados e na educação do povo.
Orador, jornalista e dramaturgo, sabia aprimorar, pelo seu esforço de autodidata, os a- tributos intelectuais inatos.
Na tribuna foi sempre um evangelizador, quer falasse aos operários, aos rudes trabalha- dores, em cujos corações ganhara amizades perduráveis, quer se dirigisse aos adeptos do Es- piritismo, cujos princípios professava e punha em prática na família, na escola e na socieda- de, ainda que injuriado e caluniado por adversários da nova doutrina, que chegaram até o in- sulto material, apedrejando o Centro Espírita “Caridade de Jesus”, quando este funcionava na casa do seu confrade Joaquim Simplício da Silva, casa situada na esquina da rua Fonte com a rua Marechal Floriano.
No jornalismo só se ocupava de assuntos austeros, predicando virtudes cívicas e morais. No teatro exerceu influência benéfica, escrevendo dramas de fundo moral, que muito contri- buíram para a educação das gerações de sua época. Desses dramas, há ainda um inédito – “Vicentina”, achando-se dois outros publicados: “A Enjeitada” e “A Órfã”, ambos de caráter espírita. Além dessas obras teatrais, há um trabalho didático de sua lavra, mui valioso, que mereceu do Conselho Superior da Instrução Pública de Santa Catarina, então sob a presidên- cia do teatrólogo e poeta Horacio Nunes Pires, referencias enaltecedoras. Publicado esse tra- balho para servir de livro de leitura nas catorze escolas mantidas pela antiga Colônia de Pes- cadores Z-2, “Nossa Senhora da Graça”, muito contribuiu para a divulgação de idéias nobres e elevadas entre os praieiros catarinenses.
O Professor Joaquim S. Thiago utilizou-se, ainda, da imprensa local para explicar ao povo os princípios espíritas e, quando faltava a imprensa, recorria à publicação de folhetos, sendo que o último, em 25 de Agosto de 1916, às vésperas de sua desencarnação, foi escrito para defender a Doutrina Espírita contra os ataques de um sacerdote da Igreja Católica.
Homem austero, de conduta irrepreensível, intransigentemente honesto, devotado ao ministério do ensino e da caridade, não se compreende, conforme escreveu seu filho Arnaldo de S. Thiago in “Historia da Literatura Catarinense”, Rio de Janeiro, 1957, que um dos go- vernos de Santa Catarina tenha mandado substituir o nome desse egrégio preceptor da moci- dade, no Grupo Escolar de Joinvile, que assim fora denominado, consoante o seguinte oficio número 394, de 20 de Janeiro de 1927, remetido ao Professor Arnaldo S. Thiago: “Tenho a honra de comunicar a V.S. que o Exmo.sr.dr. Adolpho Konder, Governador do Estado, assi- nou ontem o decreto número 2.017, convertendo as escolas reunidas em Grupos Escolares de 2ª. Classe, dando-lhes os nomes de professores que exerceram abnegada e brilhantemente o magistério público, no Estado. Outrossim, comunico-vos com a mais viva satisfação que o Grupo Escolar de 2ª. Classe da cidade de Joinvile tomou o nome de Grupo Escolar Professor Joaquim S.Thiago, tradição viva do professor que votou o melhor de sua existência para edu-
car e instruir a infância, cooperando assim para a grandeza de nossa Pátria. Mâncio da Costa
– Diretor de Instrução”.
O valor social e o prestigio de que desfrutou, entre os seus contemporâneos, levaram a Academia Catarinense de Letras a fazê-lo patrono de uma cadeira daquele sodalício intelec- tual, a de número 21, ocupada presentemente por um dos seus filhos.
O Professor Joaquim Antonio de S. Thiago foi um lidimo valor da Doutrina Espírita, abnegado apostolo da Caridade, cultivando no mais alto grau o espírito de humildade. Seu nome está hoje vinculado a diversos Centros Espíritas de Santa Catarina e ao “Bezerra de Menezes”, do Andaraí, no Rio de Janeiro, aos quais ele vem dando sua esclarecida assistên- cia, dos planos da Espiritualidade.
Cultura polimorfa, além dos livros já citados, deixou muitos inéditos de profunda bele- za espiritual, nos quais se revela um escritor fluente, de muita imaginação, sabendo extrair de simples temas, como a semente, por exemplo, um mundo de verdades filosóficas e de refle- xões altamente educativas e moralizadoras.
Mais pelos exemplos que pelo ensino oral ou escrito, o Professor Joaquim S. Thiago permanece inesquecível na comunidade espírita de Santa Catarina, querido e respeitado pelos seus reais serviços em bem do próximo.